Os percalços, os desafios e os caminhos possíveis da mulher no mercado de trabalho e em cargos de liderança foi tema principal nos debates vespertinos do estádio Mané Garrincha na tarde desta quarta-feira (29/1). Um painel reuniu a conselheira federal Carmen Petraglia, a primeira advogada mulher a presidir seccional de Alagoas da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-AL) e assessora do Confea, Fernanda Marinella, e a engenheira civil e empreendedora Bruna Lacerda
Abrindo os trabalhos, a conselheira Carmen Petraglia comentou que é feminista há muitos anos. “Mas na minha época, ser feminista era diferente. Hoje, fazer não basta, a gente tem que falar, tomar a frente”. Carmen coordenou até o ano passado o Comitê Gestor do Programa Mulher do Confea e disse estar feliz de deixar o Programa com diversas coordenações regionais nas mãos de mulheres jovens. “A gente não faz nada sozinho, é coletivo. Sugiro que essas novas lideranças se preparem para ser conselheiros federais, presidentes de Crea, do Confea, faço essa conclamação”, concluiu.
A engenheira civil Bruna Lacerda teve seu primeiro filho há um mês. Compartilhou que ainda está se adaptando à nova vida. Com 169 mil seguidores no Instagram, Bruna trabalha com regularização de imóveis e ministra aulas para cerca de quatro mil alunos. “A área de regularização traz sossego porque trabalho de onde quiser. Isso facilita muito. Empreender trouxe segurança e flexibilidade e, nesta fase da vida, viabilizou a maternidade”.
O sonho de Bruna era trabalhar em uma grande empresa, mas ela viu que era muito difícil conseguir uma vaga, principalmente quando não se tinham contatos. “Quando me formei, vi que precisava criar meu nome. Fiz parcerias, passava o dia inteiro nas ruas de Anápolis (GO), em obras, sem ganhar nada, só para que as pessoas me conhecessem”. Nessas andanças, Bruna percebeu que a regularização de imóveis era uma lacuna no mercado nacional, que ela vislumbrou como oportunidade. Hoje ela tem dois escritórios, com centenas de projetos realizados em todo o país e já realizou diversos sonhos: o primeiro deles foi fazer a mãe parar de trabalhar como auxiliar de limpeza. “Eu criei oportunidades. O diploma não faz isso, é você quem tem que ir atrás, meter a cara a tapa. O diploma não garante piso salarial. Minha dica é: vá e faça”.
“A voz e saber se colocar é fundamental - não podemos perder a oportunidade de nos colocarmos: deram palco e microfone: brilhem”, assim começou sua fala Fernanda Marinella, a primeira advogada mulher a presidir seccional de Alagoas da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-AL) e assessora do Confea. “Lidar com cargo de liderança é difícil. Eu também tenho filhos, eles já estão mais velhos e acreditem: dá certo. Mas vocês não podem sentir culpa. Mãe não pode ser sinônimo de culpa”, disse, dirigindo-se à Bruna.
Fernanda fez uma referência à palestra anterior - da Fayda Belo, que disse que os homens não precisam sair da cadeira para que a mulher ocupe o espaço, basta adicionar mais uma cadeira para a mulher -, ao lembrar que, no caso dos cargos eletivos, é necessário, sim, que os homens saiam do assento para que a mulher ocupe. “O legislador brasileiro é masculino. Ocupar esses cargos é fundamental para atender nossos interesses. Mulher precisa votar em mulher, mulher precisa dar oportunidade para mulher. Esses espaços são espaços de luta, de desafio, de conquistas. nós somos capazes de fazer muito com muito pouco que temos, somos capazes de construir histórias incríveis se deixarmos de lado a síndrome do impostor”.
Para ilustrar a desigualdade salarial entre os gêneros, Fernanda utilizou um exemplo do entretenimento. “O filme Mulher Maravilha fez recorde de bilheteria como qualquer filme de herói. Mas a atriz que representou a protagonista ganhou de cachê 10% do valor concedido aos atores que comumente fazem os heróis. Nós temos o papel de escrever da primeira à última página da nossa história, se não mudarmos por nós, que seja pelas nossas filhas. Não deixe ninguém medir o seu valor. Não dê a ninguém a régua que mede o seu valor”.
Fonte: www.confea.org.br