Há 120 anos, o jornalista, escritor e engenheiro Euclides da Cunha percorreu as águas do Rio Purus, quando atuou como chefe da Comissão Brasileira de Reconhecimento do Alto Purus. Durante sete meses, o autor de “Os Sertões” conheceu seringueiros e outros habitantes da região, na fronteira com o Peru. Apenas dois anos antes, o Tratado de Petrópolis, entre Brasil e Bolívia, reconhecera aquelas terras como território brasileiro, sob a diplomacia do Barão do Rio Branco, que incluiu a construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré e o pagamento de 2 milhões de libras esterlinas.
As condições de abandono do local ficaram registradas na obra póstuma “À Margem da História”, onde Euclides relatava: “O Purus é um enjeitado. Precisamos incorporá-lo ao nosso progresso, do qual ele será, ao cabo, um dos maiores fatores, porque é pelo seu leito desmedido em força que se traça, nestes dias, uma das mais arrojadas linhas da nossa expansão histórica”.

Se aquelas condições podem ter melhorado em relação às comunicações e transportes que percorram (ou sobrevoem) seus leitos tortuosos que incluem um afluente do Purus que dá origem ao rio Acre, ainda em território peruano, pouco se pode dizer em relação às condições de vida daqueles familiares que conseguiram resistir ou dos que ali chegaram mais recentemente. É o que comprova a terceira parada da série “O Brasil que o Brasil não Conhece”, na qual o presidente do Confea, eng. Vinicius Marchese, adentra em algumas cidades brasileiras com os piores Índices de Progresso Social (IPS). Santa Rosa do Purus e todo o Acre poderão ter um ciclo de crescimento com o Programa Rotas da Integração, do governo federal. Semanalmente, somos levados, nas redes sociais do Confea, à realidade desses lugares. Ontem, foi a vez de Santa Rosa do Purus, no Acre.
Apesar de o município haver sido fundado em 1992, Santa Rosa do Purus era uma região de seringais, já naquele início do século XX. Os seringais se tornaram mais conhecidos para o "outro Brasil", durante e depois da perda do monopólio para as colônias inglesas na Ásia, na década seguinte à viagem de Euclides da Cunha. E só voltariam a lume durante a Segunda Guerra Mundial, com os Soldados da Borracha, e na década de 1980, já a centenas de quilômetros dali, às margens do encontro entre os rios Acre e o próprio Xapuri, onde se protagonizou a história do líder sindical e ambientalista Chico Mendes. Xapuri que nascera naquele ano de 1905. Em um tempo em que não se pensaria em uma Rota da Integração Brasil-Peru, que pretende ligar o país ao oceano Pacífico pelo porto de Chancay, visitado pelo presidente do Confea em abril deste ano.

A Floresta Nacional de Santa Rosa do Purus e o contato com os indígenas, por meio da Funai e da Embrapa, costumavam ser alguns dos limites para a atuação dos engenheiros na região. Um exemplo é o engenheiro agrônomo Eufran Ferreira do Amaral, homenageado pela Láurea ao Mérito do Sistema Confea/Crea e Mútua em 2022. Em suas viagens de barco, que podem durar até sete dias, além de conhecer as dificuldades naturais do Purus, o pesquisador desenvolve sua Etnopedologia (conceito de classificação dos solos que envolve a cultura dos habitantes de determinada região), buscando reduzir as limitações alimentares de parte daqueles moradores.
Logística e engenharia
Agora, o presidente do Confea promove um novo capítulo dessa relação. Com 44,24 pontos, o IPS de Santa Rosa do Purus é muito abaixo da média do país, de 61,96. O secretário de obras do Acre, eng. Ítalo Lopes, cita que o Exército tem executado obras com recursos da bancada federal do estado para a construção do aeródromo onde Vinicius Marchese, a presidente do Crea-AC, eng. civ. Carmem Nardino, e os integrantes da equipe de filmagem pousaram. “A logística é extremamente desafiadora. Você tem que passar uma parte do ano estocando coisas, e outra parte do ano aplicando”, disse o secretário. “Temos meses em que o rio seca, e só chegam coisas por avião. O custo dispara”, ressaltou o eng. Bruno Gomes, tenente do Exército. “Fazer obra nessa região não é fácil”, sintetizou o governador eng. Gladson Cameli.

O acesso ao saneamento básico, por exemplo, um dos eixos para a criação do Índice Confea de Infraestrutura do Brasil (Infra-BR), decorrente do IPS, é 12 vezes inferior à média nacional, na ordem de 3,48%. “O grande ponto aqui, trazendo a engenharia, é a mudança na vida das pessoas”, apontou Marchese. “O isolamento impede projetos de infraestrutura na cidade e limita vidas, interrompe sonhos e desperdiça potenciais, mas a engenharia pode reverter isso”, reforça o material. “A execução de uma obra em um município como esse foge aos padrões de dimensionamento do resto do Brasil. A engenharia junto com um bom planejamento pode sim melhorar a qualidade de vida da população”, acrescentou a presidente Carmem Nardino.

A série destaca que o município possui um dos maiores índices de mortalidade infantil do país (69,65 óbitos/mil), o que poderia ser reduzido por meio da construção de uma estrada. O número é 4,8 vezes a média nacional. São casos de desnutrição e desidratação. Outro problema, apontado pelo médico da cidade, Dranízio Santos, é o tratamento de hipertensos e diabéticos. “Por conta do isolamento cultural, alguns povos indígenas locais têm dificuldade para levar as crianças doentes ao posto de saúde de Santa Rosa do Purus”, descreve o material. A enfermeira Rônia do Nascimento acrescenta a dificuldade de fazer os exames de pré-natal.
Fonte; Confea




